Começo por salientar que na minha pesquisa tenho lidado principalmente com o budismo nas suas várias formas regionais e com a religião tibetana. No entanto, durante a minha educação e docência no seminário, tive oportunidade de trabalhar e discutir as questões gerais da história da religião. As seguintes reflexões breves são baseadas no estudo de um número maior de escrituras da Igreja de Scientology e numa série de análises religiosas científicas e discussões acerca da Igreja sob diferentes aspetos, incluindo de história de ideias e também sociológico e psicológico.
Entre os recentes estudos importantes, quero enfatizar, especialmente, «Scientology» (1994) de Bryan Ronald Wilson, o mais destacado sociólogo britânico de religião, «Da Terapia à Religião» (1994) de Dorthe Refslund Christensen e o artigo «Scientology and Indian Religion (Scientology e a Religião Indiana)» (Chaos Nº. 25, 1994) de Oluf Schonbeck. Ademais, visitei as instalações da Igreja em Estocolmo e falei com os seus representantes aí e com outras pessoas e com isso procurei formar uma compreensão pessoal direta sobre a Igreja de Scientology.
Scientology geralmente é vista como exemplo de uma «nova religião», uma designação que é comum referir-se a movimentos criados no mundo ocidental neste século e que chegaram à Suécia na década
Os meios, a concentração na vida aqui e agora, a organização e o vocabulário racional e técnico existente em certas «novas religiões» levaram representantes de comunidades principalmente cristãs a questionar se é lícito
Por exemplo, se usarmos uma definição comum de religião: «A religião é a convicção da existência de um mundo sobrenatural, uma convicção que acima de tudo é expressa em conceitos de crença de vários tipos que são concretamente ilustrados em rituais e observâncias e em retratos épicos» (Ake Hultcrantz, «Métodos Dentro da Pesquisa Comparativa da Religião», 1973, pág. 13), a Igreja de Scientology aparece muito claramente como uma religião. Além disso não há razão para que um historiador de religião ordene religiões diferentes com pontos de partida diferentes numa escala de valor.
As religiões podem ser analisadas de múltiplas maneiras e de diferentes ângulos de abordagem. Neste contexto, parece adequado fazer uso de uma disposição que indique variações e nuances e também o grau de plenitude. O historiador de religião Ninian Smart organizou pedagogicamente em várias obras a sua apresentação sob sete títulos, cada um deles voltado para uma determinada dimensão e característica da religião em causa. Estas sete dimensões são o ritual e prático; o emocional e o relacionado com a experiência; o místico e narrativo; o filosófico e educativo; o ético e jurídico; o social e institucional; e, finalmente, o material e estético. Com base neste padrão, podemos procurar discernir as características típicas de uma religião em particular de uma maneira que facilite as comparações com outras religiões e com outras comparações relativas.
Esta exposição não é o lugar para descrever a história da Igreja de Scientology, nem para abordar os problemas de confiabilidade de fontes que um historiador de religião enfrenta quando compara as contribuições do dinâmico fundador de Dianetics e Scientology,
O princípio é que o indivíduo, de maneira formalizada, deve ser levado à descoberta do seu estatuto espiritual e do que está a impedir o seu desenvolvimento como um ser espiritual. Pondo tais barreiras à vista, o indivíduo é colocado numa posição em que pode remover estas e prosseguir.
A primeira dimensão é o ritual e prática. Aqui encontramos o aconselhamento espiritual individual chamado audição, e a educação religiosa de Scientology, chamada treino. Aqui também estão incluídos os rituais coletivos, os serviços religiosos e cerimónias para casamentos, batismo de crianças e funerais, levados a cabo regularmente. O procedimento de audição e a sua estrutura depende naturalmente, diretamente, do ponto de vista da igreja sobre o Homem e suas possibilidades espirituais de desenvolvimento, que serão retomadas posteriormente. O princípio é que o indivíduo, de maneira formalizada, deve ser levado à descoberta do seu estatuto espiritual e do que está a impedir o seu desenvolvimento como um ser espiritual. Pondo tais barreiras à vista, o indivíduo é colocado numa posição em que pode remover estas e prosseguir. Desta maneira, o aconselhamento espiritual tem alguma semelhança com certas atividades terapêuticas, e o método também faz lembrar os métodos usados por certas formas de budismo e hinduísmo, que também se baseiam numa estreita relação entre professor e aluno e na interação entre formalismo e intuição.
As cerimónias religiosas coletivas parecem ser influenciadas pelo cristianismo e não são únicas dentro de um contexto ocidental. Os textos que orientam a realização das cerimónias dão uma impressão digna e adequada.
A segunda dimensão
A terceira dimensão é a narrativa e mística. A este respeito, Scientology parece bastante carente, comparativamente.
A dimensão filosófica e doutrinária é a quarta. Não é possível abordar adequadamente a extensa e não totalmente descomplicada filosofia de Scientology neste espaço limitado.
A causa disto é existências e atos anteriores nesta ou em vidas anteriores que impedem a perceção e a compreensão. O objetivo do procedimento de audição é a descoberta e compreensão desses obstáculos, «vestígios» do passado, e por esse meio a sua eliminação. Desta maneira, um ser humano, ou melhor, o thetan,
O objetivo é que o thetan alcance um estado tipo divino que realmente é o seu estado original.
A partir disto podemos ver que Scientology possui uma teologia, uma antropologia e uma doutrina para a salvação de coerência interna que é extensivamente considerada. O que acima de tudo chama a atenção do historiador de religião é a grande semelhança que existe entre esses ensinamentos e os que existem em certas religiões e sistemas de filosofia religiosa na Índia. Nesses também encontramos o conceito de que as ações do Homem têm consequências para as suas vidas futuras na forma de experiências que podem ser reativadas e que então dão forma ao futuro dele. Através de boas ações, meditação e outros exercícios, essas experiências podem ser localizadas e eliminadas para de algum modo beneficiar ou possibilitar o desenvolvimento espiritual. Nos sistemas hindus,
A linguagem, frequentemente técnica, de Scientology na descrição destes procedimentos tem assim o seu equivalente nas tecnologias de salvação indianas.
A disposição do ensino em forma hierárquica de modo que a pessoa primeiro tenha de atingir um certo nível espiritual ou estado para ter direito de participar no nível seguinte também é comum a Scientology e algumas escolas de pensamento indianas. Em ambas as tradições, as transições entre níveis estão ligadas a desempenho de vários tipos.
No Credo da Igreja de Scientology, é expressada a crença na igualdade de direitos para todos e a ênfase é colocada nos direitos humanos.
A quinta dimensão é ética e jurídica. Porque se acredita que o Homem é basicamente bom, ele é capaz de escolher o certo e o bom. No Credo da Igreja de Scientology, é expressada a crença na igualdade de direitos para todos e a ênfase é colocada nos direitos humanos. A perspetiva alargada está claramente incluída, apesar de a ética em Scientology estar muito orientada em torno do indivíduo. Além disso há o desempenho de atividades de melhoramento social através de várias organizações, o que, contudo, não é de interesse primordial para um historiador de religião.
A sexta dimensão, social e institucional, pode refletir a integração e aceitação de uma comunidade religiosa na sociedade que a rodeia. A Igreja de Scientology é organizada de uma forma que faz lembrar as igrejas cristãs, i.e., com uma hierarquia de clérigos e leigos como força unificadora. Na congregação existem várias atividades mas, como a prática é centrada no indivíduo e no seu desenvolvimento, não se fica com a impressão de que a Congregação da igreja é que é a entidade social central. Das sondagens disponíveis, parece que o membro médio está na
A sétima e última dimensão é o material e estético. A designação de capela para os serviços religiosos, a vestimenta dos ministros e o simbolismo religioso em geral fazem que seja provável a comparação com o cristianismo ocidental. Distintivo da Igreja de Scientology é o gabinete para o fundador,
Uma conclusão deste breve exame dos vários aspetos da Igreja de Scientology é que existem grandes semelhanças com a religião oriental em questões relativas à visão da natureza humana e formação de doutrina. Por seu lado, a organização e os serviços religiosos fazem lembrar mais o Ocidente e o cristianismo.
Além disso, Scientology apresenta-se plenamente como uma religião e, portanto, é natural que expresse a opinião de que, numa comunidade que tem liberdade religiosa, ela seja provida de instalações para satisfazer a necessidade dos seus aderentes e membros da fé religiosa.
Estocolmo, Suécia
20 de março 1996